A Cirurgia Bariátrica envolve um processo
de muitas mudanças. Essas mudanças estão
relacionadas a questões físicas, hormonais,
nutricionais, sociais e emocionais. Por envolver todas esses
aspectos, entende-se que se tornam necessárias avaliações
e preparação pré-cirurgia por uma equipe
interdisciplinar.
Como parte do processo da cirurgia está
a avaliação e o acompanhamento psicológico
no pré e pós-cirúrgico. O acompanhamento
no pré-cirúrgico é necessário
para avaliarmos as condições psicológicas,
as características de personalidade e os aspectos emocionais
do paciente para suportar as modificações trazidas
pela cirurgia. Prepara para as mudanças físicas
e psicológicas, conscientiza sobre os benefícios
e limitações da cirurgia, auxilia na expressão
de medos e fantasias e avalia o histórico de possíveis
transtornos emocionais anteriores e atuais que podem interferir
negativamente nos resultados da cirurgia (ansiedade, transtorno
da compulsão alimentar, quadros depressivos e outros).
Este contato com a Psicologia pode ser visto pelos pacientes
como uma oportunidade de autoconhecimento, de pensar sobre
sua escolha e fazer vínculos, não sendo apenas
uma formalidade a ser cumprida para liberação
da cirurgia.
No pós-cirúrgico o acompanhamento
é importante na fase de adaptação a um
novo corpo (elaboração entre o corpo que o paciente
imaginou e o corpo que vai se formando), auxilia na adaptação
aos novos hábitos e atitudes e nas novas relações
que o paciente vai estabelecer com si próprio e com
os outros. Neste acompanhamento é possível avaliar
se está havendo uma melhora com relação
à auto-estima do paciente, satisfação
com a imagem corporal, como está seu envolvimento social,
mudanças de comportamento, projeto de vida, se houve
melhora de sintomas depressivos, ansiosos e de transtornos
alimentares e se há a presença de comportamentos
compulsivos, sintomas de transtornos alimentares (vômitos
provocados, inapetência), sintomas depressivos (como
tristeza, choro fácil, sensação de vazio,
perda do interesse por atividades que gostava, irritabilidade,
isolamento, inapetência, pensamentos freqüentes
de morte e suicídio).
O acompanhamento psicológico fornece apoio aos momentos
em que o paciente possa ter medos, dúvidas e sensação
de fracasso.
Para alguns pacientes a cirurgia pode não
ser indicada para este momento. Normalmente se trata de pacientes
que não demonstraram capacidade de compreender as mudanças
que ocorrerão após a cirurgia e que não
se demonstram capazes de se responsabilizar e se comprometer
com todos os acompanhamentos a curto e longo prazo que serão
necessários após a cirurgia. Pacientes que apresentam
uso nocivo ou dependência de álcool ou outras
drogas e/ou dificuldades emocionais mais graves devem receber
tratamento psicológico e psiquiátrico anterior
à cirurgia. Ou seja, orientamos que qualquer quadro
psiquiátrico deve ser adequadamente tratado no paciente
candidato à cirurgia.
Um outro ponto importante a ser acompanhado
é a presença de um comer compulsivo nos pacientes
que se propõem à cirurgia. O Transtorno da Compulsão
Alimentar Periódica é um comportamento que está
presente em aproximadamente 30% dos pacientes candidatos à
cirurgia. Caracteriza-se por comer num intervalo curto de
tempo uma quantidade de alimento muito maior do que outra
pessoa poderia comer no mesmo período de tempo. É
acompanhado por um sentimento de perda do controle do quanto
se está comendo naquele momento. Podem também
estar presentes o fato de o paciente comer muito mais rapidamente
que o normal, comer até sentir-se "cheio",
comer muito mesmo quando não estiver fisicamente com
fome, sentir repulsa, depressão ou culpa após
comer excessivamente. Pode estar associado a jejuns prolongados,
exercícios excessivos e vômitos provocados como
forma de eliminar o excesso de calorias ingeridas. Nos pacientes
candidatos à cirurgia com a presença de TCAP
será necessário um acompanhamento mais próximo
da equipe pela possibilidade de que esse paciente venha a
ter uma perda menor de peso quando comparado aos outros pacientes
sem o TCAP. Além disso, estes pacientes podem "trocar"
de compulsão frente à impossibilidade de ingerir
uma grande quantidade de comida. Podem surgir outros comportamentos
compulsivos como o jogo compulsivo (bingo, jogo de cartas),
o comprar compulsivo, o uso abusivo de drogas (principalmente
o álcool), uso excessivo de internet ou video-game
e o sexo compulsivo.
Esses comportamentos podem ser indicativos
de que o paciente pode estar enfrentado dificuldades emocionais.
Esses sinais podem ser sintomas depressivos como tristeza,
desânimo, falta de interesse, irritabilidade, isolamento,
sensação de vazio, sensação de
fracasso, inapetência. É necessário estar
atento aos episódios de vômitos freqüentes
ou provocados pelo paciente, o comer em excesso ou se negar
a comer adequadamente. Estar atento também aos comportamentos
compulsivos (jogo compulsivo, o comprar compulsivo, uso excessivo
de internet ou video-game, o aumento do consumo de cigarro,
álcool ou outras drogas) e o abandono dos acompanhamentos
propostos pela equipe.
Assim, a família é convidada
desde o início a participar de todo o processo. O objetivo
é aumentar o envolvimento da família neste processo;
oferecer orientações (sabemos que quanto mais
orientada a família, melhores são os resultados
para o paciente), estimular a família a estar disponível
para o paciente e para ser capaz de identificar as dificuldades.
Para o paciente é importante que sua família
esteja presente, seja atenta e observadora. As famílias
que apóiam são aquelas capazes de cuidar, capazes
de compreender as fases emocionais pelas quais passa o paciente,
que oferecem incentivo. Entendem que a obesidade é
uma doença que prejudica a saúde e provoca muito
sofrimento físico e psíquico e que ajudam o
paciente a entender que o tratamento não termina na
cirurgia em si e não se reduz ao primeiro mês
de pós-cirúrgico. A família muitas vezes
também enfrentará dificuldades, dúvidas,
incertezas e medos junto com o paciente e a equipe estará
sempre disponível para apoio ao paciente e sua família.
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